Zoonoses: Cuidar do Pet é Cuidar-se

Julho é o Mês Dourado da conscientização sobre a saúde dos pets, um período dedicado a reforçar a importância da vacinação e da prevenção das zoonoses. Mas o alerta vai além de uma campanha: a saúde dos nossos animais está diretamente ligada à saúde de toda a família.

Essa é uma época para lembrar que cuidar dos nossos pets com carinho e responsabilidade é um ato de amor e proteção. Afinal, ao garantir o bem-estar deles, também estamos cuidando da nossa saúde e da de quem amamos.

Continue a leitura para conhecer as principais zoonoses, entender os riscos e descobrir como proteger seu pet e toda a sua família.

Entenda o que são Zoonoses

Zoonoses são doenças que podem ser transmitidas de animais para seres humanos, de forma direta ou indireta. Embora algumas pareçam distantes da nossa realidade, muitas estão presentes no nosso dia a dia.

Elas podem ser transmitidas por mordidas, arranhões, contato com fezes, urina, saliva ou até mesmo por vetores como mosquitos. Podem atingir qualquer pessoa, especialmente quem convive com pets sem os cuidados necessários de prevenção.

Mas não se assuste! Embora existam zoonoses sérias, a maioria pode ser evitada com ações simples, acessíveis e, acima de tudo, com amor e responsabilidade.

As Principais Zoonoses e Seus Perigos

Cães e gatos, embora sejam ótimos companheiros, podem ser hospedeiros de diversos agentes infecciosos. Por isso, conhecer as principais zoonoses é o primeiro passo para se proteger e também proteger seu pet. Veja algumas das mais comuns (e perigosas):

1. Raiva

Cachorro bravo.
Fonte: Zelenenka (Getty Images)

Uma das zoonoses mais graves e temidas devido à sua alta letalidade. Afeta o sistema nervoso central, levando a uma encefalite aguda e progressiva.

Agente causador

Vírus da família Rhabdoviridae.

Transmissão

Principalmente pela saliva de animais infectados, através de mordidas, arranhões ou lambeduras em pele com ferimento ou mucosas (olhos, boca, nariz).

Sintomas

Em cães e gatos, a raiva pode se manifestar de duas formas principais:

  • Raiva furiosa: o animal fica agressivo, late ou mia excessivamente, tenta morder pessoas e outros animais sem provocação. Pode surgir salivação excessiva e dificuldade para engolir. 
  • Raiva paralítica: o animal apresenta paralisia progressiva, começando pelas patas traseiras. Há dificuldade para andar, tremores, voz alterada, paralisia da mandíbula e dificuldade para engolir. O animal fica apático e pode se esconder.

Em humanos: após um período de incubação, surgem sintomas inespecíficos como febre, dor de cabeça, mal-estar formigamento e queimação no local da mordida. A doença evolui para quadros de ansiedade, nervosismo, insônia, agitação, agressividade, paralisias, espasmos musculares dolorosos, convulsões, coma e morte.

Prevenção

  • Vacinação em dia de cães e gatos.
  • Evitar contato com animais desconhecidos ou com comportamento estranho.
  • Em caso de mordida, arranhadura ou lambedura por animal suspeito, lavar o local imediatamente com água e sabão em abundância e procurar atendimento médico o mais rápido possível para avaliação e, se necessário, vacina e soro antirrábico.

Fato interessante: O Dia Mundial de Combate às Zoonoses, celebrado em 6 de julho, é uma data de conscientização global. Foi escolhida em memória do dia em que Louis Pasteur aplicou com sucesso a primeira vacina antirrábica em um ser humano, em 1885.

2. Leptospirose

Zoonoses: Leptospirose
Fontes: BirdShutterB, Thiradech (Getty Images)

Transmissível pela urina de ratos, essa doença pode contaminar os animais e também os humanos, principalmente em áreas alagadas ou mal higienizadas.

Agente causador

Bactéria do gênero Leptospira.

Transmissão

Ocorre pela exposição à urina de animais infectados, direta ou indiretamente, através de pele com lesões, pele imersa por longos períodos em água contaminada, ou através de mucosas. 

Sintomas

Em cães, os sintomas podem variar bastante, dependendo da cepa da bactéria e da imunidade do animal. Por outro lado, os gatos são considerados bem resistentes à doença e raramente desenvolvem sintomas.

Inicialmente, os sintomas podem ser inespecíficos, como: febre, desânimo, fraqueza, perda de apetite, vômitos, diarreia, dor muscular, sensibilidade abdominal, dificuldade para andar e desidratação.

Porém, à medida que a doença progride, podem surgir sinais mais graves: problemas hepáticos, aumento da ingestão de água e da produção de urina, ou diminuição ou ausência de urina em casos de insuficiência renal, hemorragias, respiração acelerada e tosse.

Em humanos: febre alta, dor de cabeça, dores musculares, calafrios, náuseas, vômitos, diarreia, icterícia. Além disso, em casos mais graves, pode haver insuficiência renal, hepática e pulmonar.

Prevenção

  • Vacinação de cães: mantenha a vacinação do seu cão em dia.
  • Controle de roedores: evite acúmulo de lixo e alimentos que atraiam ratos.
  • Higiene: mantenha o ambiente sempre limpo. Além disso, evite o contato com água ou lama de enchentes. Pessoas que trabalham em áreas de risco (limpeza de enchentes, saneamento) devem usar equipamentos de proteção individual (botas e luvas de borracha). 
  • Evite que o pet beba água de fontes desconhecidas ou poças. Além disso, animais que têm acesso livre à rua estão em maior risco.

3. Leishmaniose

Zoonoses: Leishmaniose (Calazar).
Fonte: VacharapongW (Getty Images)

A leishmaniose é uma zoonose grave e de grande importância para a saúde pública, especialmente no Brasil.

Existem duas formas principais da doença que podem afetar tanto cães quanto humanos: a Leishmaniose Visceral (Calazar) e a Leishmaniose Tegumentar (Cutânea ou Mucocutânea).

A Leishmaniose Visceral (Calazar) é a forma mais grave da doença e a mais preocupante no país.

Agente causador

Protozoário Leishmania infantum.

Transmissão: não há transmissão direta de cão para humano, nem de humano para humano. A transmissão ocorre quando o mosquito-palha fêmea infectado pica um cão infectado e, posteriormente, pica um humano, transmitindo o parasita.

Sintomas

Em cães: os sintomas da Leishmaniose Visceral Canina (LVC) são variados e, muitas vezes, inespecíficos, o que dificulta o diagnóstico precoce. Além disso, muitos cães podem ser assintomáticos por um longo período, mesmo estando infectados e sendo fonte de infecção para os mosquitos. Quando os sintomas aparecem, podem incluir:

  • Perda de peso progressiva, mesmo com apetite normal ou aumentado.
  • Queda de pelos e lesões na pele, principalmente ao redor dos olhos, focinho e orelhas.
  • Crescimento exagerado das unhas, que ficam longas e deformadas.
  • Problemas oculares: conjuntivite e inflamação das pálpebras.
  • Apatia, fraqueza, intolerância a exercícios.
  • Aumento de gânglios linfáticos visíveis ou palpáveis.
  • Problemas renais e hepáticos: podem levar a aumento da ingestão de água e da produção de urina, ou vômitos e diarreia.
  • Atrofia muscular.
  • Sangramento nasal em alguns casos.

Em humanos: febre prolongada, aumento do baço e do fígado, perda de peso, fraqueza, anemia, inchaço abdominal e de gânglios linfáticos. Se não tratada, pode ser fatal.

Prevenção

  • Vacinação em cães.
  • Uso de coleiras repelentes.
  • Evitar passeios com o cão em horários de maior atividade do mosquito (crepúsculo e noite) em áreas de risco.
  • Para pessoas em áreas de risco: uso de repelentes na pele, utilização de mosquiteiros e instalação de telas de proteção nas portas e janelas de residências e canis.
  • Cuidado ambiental: limpeza de quintais e terrenos para evitar acúmulo de matéria orgânica (folhas, frutos, fezes), que serve de alimento e abrigo para o mosquito-palha.

4. Toxoplasmose

Gato parado perto da sua caixa de areia.
Fonte: Oleg Opryshko (Getty Images)

Mais conhecida por sua associação com os gatos, a toxoplasmose pode causar problemas sérios, principalmente em pessoas com a imunidade baixa e gestantes.

Embora os gatos sejam os hospedeiros definitivos do parasita, a transmissão para humanos raramente ocorre por contato direto com o animal, mas sim por outras formas indiretas. Além disso, é importante destacar que nem todo gato é portador da toxoplasmose.

Agente causador

Protozoário Toxoplasma gondii.

Transmissão

  • Ingestão de carne crua ou mal cozida contendo cistos do parasita.
  • Ingestão de alimentos ou água contaminados com oocistos (ovos) eliminados nas fezes de gatos infectados.
  • Contato com solo, caixas de areia ou jardins contaminados com fezes de gatos infectados.
  • De mãe para filho durante a gravidez (transmissão congênita).

Sintomas

Em gatos, a maioria das infecções por Toxoplasma gondii é assintomática. Ou seja, o gato pode estar infectado e eliminando o parasita nas fezes sem apresentar nenhum sinal de doença. Quando os sintomas ocorrem, geralmente em filhotes ou gatos imunocomprometidos, eles são inespecíficos e podem incluir:

  • Apatia, perda de apetite.
  • Febre.
  • Dificuldade respiratória (tosse, falta de ar).
  • Vômitos e diarreia.
  • Sinais neurológicos (convulsões, andar descoordenado) em casos graves.
  • Sinais oculares (inflamação nos olhos, cegueira).

Em humanos: a maioria das infecções é assintomática ou apresenta sintomas leves, como febre baixa, dores musculares, fadiga e aumento dos gânglios linfáticos. No entanto, em gestantes, a toxoplasmose pode ser grave, com risco de transmissão congênita para o feto, o que pode causar malformações e problemas neurológicos.

Já em pessoas com imunidade comprometida, a infecção pode evoluir para formas mais severas, atingindo o cérebro, os olhos e os pulmões.

Prevenção

  • Higiene na manipulação de alimentos: lave bem frutas, legumes e verduras. Cozinhe bem as carnes.
  • Higiene com gatos: limpe a caixa de areia do gato diariamente (os oocistos levam de 1 a 5 dias para se tornarem infectantes). use luvas ao manusear a areia e lave bem as mãos depois.
  • Alimentação do gato: evite que o gato cace e alimente-o com ração comercial ou carne bem cozida para prevenir a infecção do animal.
  • Gestantes: devem ter atenção redobrada com as medidas de higiene, evitar contato com fezes de gato, solo contaminado e cuidado com a alimentação.

É importante desfazer o mito de que gestantes não podem ter gatos em casa. Muitas pessoas ainda acreditam que a presença do felino representa um risco direto, mas a verdade é que a toxoplasmose, como vimos, pode ser contraída por outras vias, como o consumo de carnes mal cozidas, frutas e verduras mal lavadas.

Portanto, não é necessário se desfazer do gato durante a gravidez. Com cuidados simples é totalmente possível conviver com segurança, protegendo a saúde da gestante e do bebê.

5. Esporotricose

Zoonoses: Esporotricose em gatos.
Fonte: formulanimal.com.br

Uma infecção fúngica que tem se tornado cada vez mais relevante, especialmente com a alta incidência em gatos.

Agente causador

Fungo do gênero Sporothrix, sendo a Sporothrix schenckii a mais comum.

Transmissão

Principalmente por arranhões ou mordidas de gatos infectados, que possuem o fungo nas unhas ou na saliva, além de feridas abertas.

Sintomas

Em gatos: é a forma mais comum e grave. As lesões são geralmente úmidas, ulceradas e com crostas, que não cicatrizam. Aparecem com frequência na face (nariz, orelhas), patas, cauda e outras partes do corpo. Os gatos podem sentir dor e, em casos mais avançados, apresentar apatia e perda de peso.

Em cães: a doença é menos comum e, geralmente, menos agressiva do que nos gatos. As lesões também são cutâneas, podendo ser nódulos ou feridas que podem ulcerar. Além disso, em alguns casos, pode haver inchaço dos gânglios próximos às lesões.

Em humanos: a forma mais comum é a cutânea, com lesões na pele que podem ser nódulos, úlceras ou feridas que não cicatrizam. Pode haver comprometimento de gânglios linfáticos. Além disso, em casos mais graves, pode se disseminar para outros órgãos (pulmões, ossos, articulações), especialmente em imunocomprometidos.

Prevenção

  • Cuidado ao manusear gatos com lesões de pele suspeitas: use luvas e procure um veterinário.
  • Tratamento de gatos doentes: é fundamental que gatos com esporotricose sejam tratados adequadamente para evitar a disseminação da doença.
  • Controle de gatos de rua: a proliferação de gatos de rua doentes aumenta o risco de transmissão.
  • Em ambientes rurais: use luvas e roupas de proteção ao manusear plantas, solo ou materiais orgânicos.

Fontes: Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Ministério da Saúde do Brasil.

Como Prevenir as Zoonoses? Com Atitudes Simples!

Importância da Vacinação em Pets.
Fonte: Pixelshot

Felizmente, prevenir zoonoses não é difícil. Com algumas atitudes conscientes, é possível manter a saúde do seu pet em dia e proteger toda a família:

  • Vacine seu pet regularmente: é a principal forma de prevenção, especialmente contra a raiva e a leptospirose.
  • Consultas veterinárias periódicas: o acompanhamento profissional e exames preventivos são fundamentais para detectar doenças antes que se agravem.
  • Ambiente limpo e seguro: mantenha a casa livre de pragas, água parada e restos de alimentos.
  • Controle de parasitas: pulgas, carrapatos e mosquitos devem ser combatidos com produtos indicados pelo veterinário.
  • Higiene constante: limpe comedouros, bebedouros, caixas de areia e utensílios com frequência.
  • Alimentação adequada: ofereça uma dieta balanceada para seus animais, evitando que comam alimentos do lixo ou caçam animais.
  • Evite o acesso livre à rua: pets soltos estão mais expostos a riscos e podem contrair doenças facilmente.
  • Evite contato com animais desconhecidos ou doentes: especialmente em passeios, parques e áreas públicas.
  • Eduque sua família, especialmente as crianças: ensinar a forma correta de lidar com os pets evita riscos de contaminação.
  • Higiene pessoal: lave as mãos com frequência, especialmente após brincar com os animais, limpar suas fezes ou antes de preparar alimentos.

Ao tomar essas precauções, você garante a saúde do seu pet e protege a sua família contra as zoonoses.

[Vale a pena conferir: Importância da Vacinação: Pets Protegidos, Tutores Tranquilos]

Zoonoses e Abandono: Uma Triste Realidade 

Muitas vezes, o medo ou a desinformação sobre as zoonoses leva ao abandono de animais, especialmente quando eles apresentam sintomas ou doenças tratáveis. No entanto, esse ciclo de medo e abandono pode ser quebrado com educação, empatia e informação de qualidade.

Quando os tutores aprendem sobre as zoonoses e entendem que há prevenção, tratamento e acompanhamento adequado, sentem-se mais preparados para cuidar de seus pets. Como resultado, o número de abandonos diminui significativamente e a convivência entre humanos e animais se torna muito mais saudável.

Cuidar dos Pets: Por Eles e por Nós

Quando você cuida da saúde do seu pet, está protegendo também a sua saúde, da sua família e até das pessoas à sua volta. Ou seja, é uma troca: o bem-estar do animal reflete diretamente no ambiente onde vivemos.

A prevenção das zoonoses começa em casa, com informação, responsabilidade e carinho. Por isso, ao entender o que são essas doenças e como evitá-las, damos um passo importante na construção de uma convivência mais segura, saudável e melhor para todos!

Então, que tal fazer a diferença? Compartilhe esse conhecimento e promova o cuidado e a proteção!

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